quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Apenas mais uma palavra

Postado por Gabi Fonseca. às 17:39

(ilustração de  Roberto Weigand)


Segurou firme o lápis, iria começar mais um estória sobre amor, ela queria que quem lesse pudesse sentir o que sentia, pudesse acreditar nos mesmos sonhos que  acreditava e entender tudo o que ela guardava em seu coração. Mas seria impossível transmitir tudo isso para uma simples folha de papel.
Letícia sempre começava seus textos descrevendo um dia lindo, uma menina feliz, sempre o oposto de sua realidade, sempre o que ela queria ser. Seus dias eram tristes, mas ela conseguia esconder isso, era como uma estrela cujo brilho se pode ver, mas que há muito tempo morrera, uma ilusão.
Para falar a verdade, nem ela sabia o porquê se sentia assim, foi como se um dia acordasse e percebesse que o que ela chamava de vida não era suficiente. Não a satisfazia, os amigos não eram quem ela imaginava, nada conseguia faze-la sorrir.O único lugar em que encontrava um reflexo da felicidade, era em seu quarto, quando mergulhava em suas fantasias e estórias. Porém Letícia tinha um problema quando escrevia, ela nunca conseguia terminar um texto, talvez por não ter condições de acreditar em um final feliz, ou por não conseguir se despedir de uma personagem, de um ser que ela idealizava.
Essa situação começou a incomodá-la, ela se sentia incompleta, e tentava buscar a razão de tudo isso, foi quando descobriu que suas estórias não poderiam ter fim, enquanto seu sofrimento continuasse.
Pensou em várias maneiras de acabar com ele, a mais viável, a mais fácil, podia ser colocada em prática imediatamente. Foi até a cozinha, abriu a gaveta e retirou uma faca “a chave para o fim de tudo”, pensou. Foi para o seu quarto, imaginando se iria doer, e por quanto tempo ficaria ali até que alguém a encontrasse...
“Gostaria que você pudesse ler o que escrevi, e que ao fazer isso lágrimas quentes brotassem de seus olhos, mostrando que você consegue me entender, só assim eu poderia me sentir feliz”. Rabiscou em um pedaço de papel, ao escrever isso não pensava em uma pessoa especial, ela só queria que o destinatário do bilhete existisse, alguém que a compreendesse.
Letícia releu o que acabara de escrever, e achou graça das suas ilusões, amassou o papel, e o atirou pela janela, na intenção de nunca mais ver aquelas palavras. Respirou fundo, segurou a faca com força, no entanto ela percebeu que não seria capaz de fazer aquilo, não tinha coragem nem para acabar com a dor que sentia. Ela se sentou sobre a cama e chorou, chorou por se sentir fraca, por saber que seu coração doía como se o tivessem arrancado, chorou por não aguentar mais, chorou apenas pra tentar se sentir livre. E por fim adormeceu.
Mas no fundo ela sabia que ao amanhecer alguma coisa iria mudar. Ela percebera que o caminho mais rápido não iria ajudá-la, que ela nasceu para lutar. Quando os primeiros raios de Sol apareceram, Letícia abriu os olhos enxugou as lagrimas e olhou pela janela. E pela primeira vez percebeu o quão lindo é o nascer do Sol.

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